"Não acho que tenha buscado isso", diz ele grunhido baixinho.
O guitarrista dos Rolling Stones está falando de encrenca que percorre sua autobiografia "Vida", como um trem desgovernado...drogas, policiais, reabilitações, morte e a relação turbulenta entre ele e a outra metade dos Glimmer Twin, o vocalista Mick Jagger. "É simplesmente como as coisas aconteceram", diz Keith sentado no escritório de seu empresário, em Nova York. "Conflitos surgem o tempo todo, especialmente se você trabalha em uma unidade tão coesa." Há uma risada apenas. "Se estou em conflito com alguém, isso significa que alguém está em conflito comigo."
O título do livro de Richards é uma descrição simples e precisa do conteúdo... altos, baixos e excessos que desafiaram o guitarrista durante seus 66 anos do nascimento até agora, relatados vividamente em sua cadência e sintaxe natural de "pirata moderno".
Vida traz com uma história cômica de um resgate de último minuto em Arkansas, durante a turnê dos Rolling Stones em 1975. Depois, Richards, que escreveu o livro com o autor britânico James Fox, fala bastante e com profundidade sobre sua infância no pós-guerra (o filho único de pais divorciados no bairro barra-pesada de Dartford, em Londres, etc e tals) e o resgate emocional que encontrou no blues norte-americano, a formação dos Rolling Stones e sua ligação criativa com Jagger.
Relata também a rotina diária e sórdida de seu romance com a heroína, que se encerrou em 1979. "Se não tivesse relembrado essa questão, algo teria ficado ausente", "Quando me drogava, estava totalmente convencido de que meu corpo é meu templo, posso fazer o que quiser com ele e ninguém pode me dizer sim ou não." keith também conta os problemas de suas escolhas... a perda do caubói cósmico e colega de vício Gram Parsons, a decadência infernal de Anita Pallenberg, amante de Richards, e a morte de seu filhinho pequeno, Tara, enquanto ele estava em turnê. "Deixar um recém-nascido é algo pelo qual não posso me perdoar", diz Richards em "Vida". "Na primeira vez em que falamos disso", conta Fox, "Keith não conseguia falar mais do que cinco palavras. Então, percebemos que tínhamos de voltar a isso. Ele contou que pensava naquilo toda semana."
Fox entrevistou Richards pela primeira vez em 1973, para um jornal de Londres.
Para Vida, Fox diz que ele e o músico "falaram em tópicos e períodos, nunca cronologicamente", durante vários dias seguidos, até três horas por dia, começando no final de 2007. O livro inclui testemunhos oculares de pessoas próximas a Richards, como a cantora Ronnie Spector (se não me falha a memória, uma antigo amorr) e o saxofonista Bobby Keys, mas Fox não conversou com os outros Stones. "Tentei", diz, observando: "Há uma tradição de um não ter nada a ver com o livro do outro".
Vidaé feito de duas histórias: uma sobre música, mau comportamento e sobrevivência, e a outra um relato apreciador, perplexo, às vezes indignado, da vida de Richards com Jagger, incluindo suas batalhas por controle da banda. "Tinha uma sensação de que Mick não teria problema algum com a verdade", alega Richards, que fica quieto por um momento. "Não há dúvidas de que eu era tão irritante para ele quanto ele pode ser para mim." Jagger leu Vida, diz Richards, "e ficou um pouco incomodado". "Mick e eu ainda somos grandes amigos e ainda queremos trabalhar juntos"diz o guitarrista
. A prova do guitarrista: ele e Jagger conversaram no meio do ano sobre novidades dos Rolling Stones para 2011. Há outra daquelas risadas estremecedoras. "Dá para imaginar a vida correndo suavemente e todos concordando com tudo?", pergunta Keith Richards. "Não aconteceria nada. Não haveria blues, não haveria 'happy'", responde, referindo-se a sua icônica explosão de alegria em Exile on Main Street, de 1972.
E certamente não haveria Vida.